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Imagem representando o post JULGANDO LIVROS PELA CAPA E O QUE ISSO TEM A VER COM A REGULAMENTAÇÃO DO DESIGN.

Publicado em 14/10/2015


Imagem da autora Liz Missaci Liz Missaci
Designer & Ilustradora
18 ARTIGOS


JULGANDO LIVROS PELA CAPA E O QUE ISSO TEM A VER COM A REGULAMENTAÇÃO DO DESIGN.

Eu pensei em zilhões de formas de abordar esse tema, pensei em várias coisas que li nas redes sociais sobre isso e percebi que a quantidade de Haters para o assunto é assustadora....Eu sei, haters gonna hate always, mas o que me impressiona é como uma regulamentação pode tornar as pessoas até um pouco "desumanas".

Engenheiros e médicos tem suas profissões regulamentadas e você pode dizer: mas se o projeto de um engenheiro estiver errado prejudicará milhares de pessoas, além de poder levar à morte, o médico então, nem se fala. Certo, argumento interessante.

E os designer onde entram nessa história? O trabalho deles não tem importância por não poder matar pessoas pelo menos não diretamente. Hummm...pensando nas possibilidades, se o designer que trabalha com veículos não inserir as famosas dicas, aquelas que ficam espalhadas em tudo quanto é canto do carro, provavelmente teríamos muito mais acidentes bobos por pessoas colocando cadeirinhas de bebês viradas para o compartimento de airbag no banco dianteiro, por exemplo, por não pensarem no risco mortal em caso de ativação (essa dica fica normalmente no quebra-sol). Ainda sobre carros, tem alguns que tem a dica de risco de amputamento, muitas dessas dicas de risco de amputamento foram inseridas depois nos veículos, quando começaram a aparecer vários casos similares.

Aí a pessoa pega e diz: mas quem viu isso foi o engenheiro ou o outro fulano ou o ciclano, mas não o designer. Isso pode ser incontestável, mas quem fez o aviso se tornar simples e de fácil interpretação não foi o engenheiro, não foi o mecânico, foi o designer por meio de iconografia para que qualquer pessoa alfabetizada ou não pudesse compreender o que aquilo significava.

Ok, falamos de um caso que acabou evitando mortes, amputamentos e até mesmo que muitas pessoas fossem hospitalizadas. Aí você me diz: tá, mas só isso?

Quando você vai em uma livraria e está procurando um livro na prateleira o que você vê primeiro? Bom, vou falar por mim: eu vejo a capa e depois abro e vejo se a leitura é agradável (cores, diagramação, etc), se esses elementos não forem bons eu fecho o livro e o devolvo na estante. Beleza, Liz, e daí? E daí que muitas pessoas vão fazer isso e o autor acabará perdendo muitas vendas: isso se tratando de pessoas que conhecem e pessoas que não conhecem design.

Isso não acontece somente nas livrarias e você pode nem perceber isso por ser algo inconsciente, mas você já deixou de entrar em lojas, de comprar certos produtos e até mesmo de acessar sites porque não houve a preocupação com a capa que envolvia cada uma dessas coisas, ou seja, você deixou de consumir e alguém deixou de vender pura e simplesmente porque julgamos sua capa.

Agora que eu falei tudo isso, acho que fica muito mais fácil falar sobre a regulamentação...rs

A regulamentação já era algo que eu e muitos profissionais da área víamos como algo que precisava acontecer o quanto antes, não digo isso por ser formada na área, sinceramente não tenho orgulho algum do meu diploma, mas tenho orgulho do que me tornei por ter corrido atrás para me profissionalizar como designer...a regulamentação vem como algo bom para o mercado do design porque inibirá um pouco um problema muito comum que eu vou chamar de "concorrência desleal" e você logo entenderá o porque:

Tem algumas pessoas que estão se vendendo como designers por conseguirem mexer no Photoshop, Illustrator, entre outros...e vou dizer, eles conseguem fazer isso de vender bem, mas por um motivo nada gratificante: eles vendem o trabalho a um preço que é impossível de competir, principalmente porque não segue nenhuma daquelas conhecidas tabelas referenciais de preço que nós, designers e profissionais que levam o mercado à sério, seguimos: aquelas que fazem com que você tenha um preço competitivo sem prejudicar todo o mercado em que você atua, sabe?!

Já aconteceu várias vezes e acho que vou ver isso muito ainda de empresas e pessoas físicas falando que não vão fechar porque uma pessoa cobrou tipo 10 vezes menos que um profissional da área. Aí as pessoas falam: o preço justo, designers são metidos e ficam cobrando muito mais caro para enobrecer o trabalho...Nossa, isso é triste de ouvir, sério...mas enfim, o que acontece é que o designer não cobra para fazer simplesmente o trabalho de juntar um monte de símbolos e textos em qualquer pedaço de papel: o designer cobra por realizar um trabalho de pesquisa sobre o seu material, ele cobra por fazer o impossível para que o seu material acima de tudo cumpra a função que lhe é destinada (informar sobre algo de forma efetiva, pensando até mesmo na ordem de leitura que quem quer que seja fará quando pegar o impresso ou até mesmo quando acessar o seu site), aplica todos os princípios que conhece nesses materiais (princípios como uso das cores, dos textos, legislações - pois é, temos que ficar atentos às legislações porque tem muita gente por aí sendo processado por não cumprir normas relacionadas às suas áreas de atuação-, entre outros) e acaba por entregar um material que se diferenciará e fará você fazer justamente o mais importante para a sua empresa: atrair clientes e vender.

Ah, então só quem tem uma faculdade sabe fazer isso? Mas é lógico que não, inclusive ressalto que conheci muita gente que não teve a chance de entrar em uma faculdade e estudou tudo isso de casa, e são profissionais fodásticos ao meu ver, mas esses não são os caras que cobram 10 vezes menos que um profissional da área, isso eu posso garantir, porque eles sabem o empenho e tempo dedicado para tornar suas vendas melhores.

Ainda sobre a faculdade, tem muita gente que se forma e cobra 10 vezes menos que um profissional por dois motivos principais: acha que assim ele conseguirá se promover de alguma forma e entrar no mercado de trabalho e a faculdade não ensina a precificar o que ajuda bastante para enfiar o pé na jaca de vez.

Eu tive muita sorte, eu diria, quando comecei minha carreira não foi nada fácil para entrar, mas não comecei com os salários super baixos que eram pagos na época para um assistente de arte júnior...tive a sorte de conhecer profissionais surpreendentes que tiveram muita paciência e dedicação em ensinar tudo o que sabiam. Eu não aprendi a precificar com eles, mas aprendi que design ia muito além de layouts cheios de "flores e adornos" para ficarem bonitos e isso meu amigo, vou te dizer, a faculdade realmente não ia ensinar...

Com relação ao resto fui aprendendo ao ter interesse em pesquisar, ler e estudar muito sobre os assuntos, fora que passei por várias etapas da área: da criação à arte finalização e depois ao gerenciamento de projeto e, de um jeito ou de outro, acabei vendo como a coisa toda funciona.

Para quem não teve toda essa sorte, lembrem-se sempre: designer não tem medo de passar seu conhecimento para frente, os que tem medo não consigo entender muito bem como funciona o tico e o teco, mas enfim...vão em frente, perguntem tudo, porque essa vergonha de perguntar por parecer "não profissional" é uma coisa que fará vocês darem muito mais voltas do que seria necessário se tivessem conversado com alguém.

Voltando a regulamentação que já estou indo meio longe nesses outros assuntos...(eu confesso que viajo muito na maionese...mas fazer o que, sou mulher e designer, imagina só como funciona essa cabecinha rsrs)

A regulamentação, pelo menos o que eu li, não tira o mérito daqueles que se esforçaram e chegaram em algum lugar sem ter faculdade, muito pelo contrário, essas pessoas estão protegidas pela lei que está para ter sanção presidencial, essa regulamentação será algo que tornará o mercado em que atuamos um pouco menos "selvagem", eu diria. Isso definitivamente não vai acabar com essas pessoas que vendem o trabalho que fazemos como se estivesse em uma pastelaria, longe disso, mesmo porque cliente pastel não vê a importância no que fazemos, logo, o pasteleiro lhe servirá bem por muito tempo e era isso.

Tem gente que está falando nas redes sociais que vai denunciar esse tipo de ato, eu, sinceramente, não penso em sair apontando o dedo para ninguém se prejudicar, mesmo porque eu não conheço as necessidades que essas pessoas passam. Mas chega uma hora que os clientes cansam do pastel e querem limpar o palato com algo diferente e é nessa hora que eles nos procuram e começam a valorizar o que fazemos, então não se preocupem com os pasteleiros, façam seu trabalho sempre com muita transparência, seriedade e cumpram sempre o que prometeram porque é essa honestidade que está faltando na nossa área.

Vou deixar para vocês o LINK para acessar a lei que está para ser sancionada. Tirem suas conclusões sobre tudo isso e desculpe-me pelo artigo monstrinho sem imagens, eu senti que precisava falar sobre isso, de verdade! :)

Abraços e até o próximo artigo!