Há muito muito tempo atrás, eu publiquei a primeira parte desse artigo (HISTÓRIA DA ESCRITA À TIPOGRAFIA - PARTE 1), foi bem difícil trazer informações com qualidade já que na web existem um zilhão de informações divergentes sobre o mesmo assunto, enfim, sem mais delongas, vamos ao que interessa! :)
OS TIPOS MÓVEIS DE GUTENBERG
Quando aprendemos sobre tipos móveis o primeiro nome que aparece é Johannes Gutenberg (1.398-1.468) como inventor dos tipos móveis, mas o que poucos sabem é que os tipos móveis surgiram muito antes de Gutenberg. Então podemos dizer que ele reinventou os tipos móveis e, consequentemente, revolucionou a indústria gráfica desde então.
Gutenberg contribuiu em vários sentidos para a impressão: processo de produção em massa com tipos móveis, o uso de tinta à base de óleo para impressão de livros, moldes ajustáveis, entre outros. O sistema criado por Gutenberg era economicamente viável tanto para os impressores quanto para os leitores, pois os tipos criados de uma liga de metal (mistura de chumbo, estanho e antimônio) eram extremamente duráveis.
A reinvenção de Gutenberg foi muito importante para o desenvolvimento do Renascentismo (séculos XIV a XVII), Iluminismo (século XVIII) e a Revolução Científica (séculos XVI a XVIII) e lançou os materiais que serviram de base para o conhecimento moderno econômico e a disseminação de conhecimento para as massas.
OS TIPOS ANTES DE GUTENBERG: LESTE DA ÁSIA
Entre 1.041 e 1.048 o chinês Bi Sheng criou os tipos móveis, porém com tipos de argila. O problema foi que os tipos de argila eram muito frágeis e nada práticos para impressões em larga escala, tornando o custo para as impressões muito alto.
Motivado pela invenção de Bi Sheng, o chinês Wang Zhen (1.290-1.333) criou um sistema móvel de impressão com tipos de madeira. A reinvenção de Wang contribuiu para a aceleração do processo de composição com simples dispositivos junto do uso complexo de tipos móveis feitos de madeira. Além desse tipo de impressão utilizando tipos móveis, era também utilizada a técnica de blocos de impressão em madeira (xilografia).
Evidências históricas apontam que os tipos móveis de metal foram criados de forma independente na Coreia, por volta do século XIV. O monge budista Baegun (1.298-1.374) foi creditado pela impressão de um livro importante sobre budismo utilizando tipos móveis de metal.
CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES
Ao longo da história foram criadas inúmeras fontes diferentes cada uma focando-se em temas, aplicações, estilos diferentes. Contar como cada estilo surgiu seria algo que levaria muito tempo e talvez não fosse tão interessante quanto contar como alguns profissionais e organizações se preocuparam em classificar cada fonte desenvolvida, então entre um e outro, acabei escolhendo tratar das classificações que surgiram ao longo dos anos.
Existem "n" classificações: de Theodore Low De Vinne, de Thibaudeau, de Daniel Berkeley Updike, Vox System, Vox-A TypI, Schrift Muss Passen, de Geoffrey Dowding, Din 16518N, British Standards System, de Rurari McLean, Lawson's System, entre muitos outros.
O PIIM (Parsons Institute for Information Mapping) organizou um mapa de informação chamado: 25 Systems for Classifying Typography: A Study in Naming Frequency (LINK PARA O PDF): para aqueles que quiserem se aprofundar um pouco mais vale super a pena ler =D, eu achei bem interessante rs
1. CLASSIFICAÇÃO DE THEODORE LOW DE VINNE
Theodore Low De Vinne (1828-1914) fez muito pela melhora nos processos de impressão americanos e também criou um sistema de classificação de fontes, porém as fontes no seu sistema foram classificadas e nomeadas de forma insatisfatória. Ele classificou as fontes da seguinte forma: Display (divididas em Ornamentals, Fat Face, Antique/Clarendon, Blackletter e Script), Romans (divididas em Condensed, Italic, Italian, Moderne e Old Style) e Gothic.
2. CLASSIFICAÇÃO DE FRANCIS THIBAUDEAU
Francis Thibaudeau (1860-1925) foi um tipografo francês, pai do primeiro sistema de classificações dos tipos de letras que batizou de classificação de Thibaudeau. Francis dividiu os diferentes tipos de letras em: Antique, Écritures (Script), Fantaisies (Display), Elzévirs, Didots e Égyptienne.
Sua classificação foi muito lógica e a mais simples, além de feita com uma excelente divisão de tipos e nomenclaturas.
3. CLASSIFICAÇÃO DE MAXIMILIEN VOX / CLASSIFICAÇÃO VOX-A TYPL
Em 1954, Maximilien Vox (seu nome verdadeiro era Samuel William Théodore Monod e viveu entre 1894 e 1974) classificou as fontes em nove classes. Alguns anos mais tarde a Associação Tipográfica Internacional (ATypI) realizou uma adaptação da classificação de Vox e a complementou com mais duas classes de fontes. Essas classes de fontes foram distribuídas em fontes clássicas (humanist, geralde e transitional), modernas (didone, mechanistic, humanist e lineal, a última foi sub-categorizada com os tipos grotesque, neo-grotesque, geometric e humanist) e caligráficas (glyphic, script, graphic, blackletter e gaelic).
4. CLASSIFICAÇÃO DE ROBERT BRINGHURST
É possível encontrar várias informações sobre a classificação de Bringhurst, então achei por bem utilizar somente as descritas no livro dele (mais seguro e sem chances de escrever bobagem). O sistema de classificação de Bringhurst é baseado em ordem cronológica e caligrafia.
5. CLASSIFICAÇÃO FONTFONT
A Fontfont FontShop possui um sistema que consegue classificar qualquer fonte em uma de suas sete categorias: Serif, Slab, Sans, Script, Blackletter, Pi & Symbols e Display. Esse sistema serve, no entanto, para a venda de fontes e, por ser muito simplificado, ele pode acabar ignorando vários designs e classificando de forma incorreta alguns casos.
6. CLASSIFICAÇÃO PARATYPE
Como o próprio site que trata sobre a classificação diz: "a classificação segue uma aproximação clássica que mistura classificações morfológicas, funcionais e históricas em uma escala". A classificação ParaType separa as fontes nas categorias: Sans Serif (sub-categorias: Glyphic, Humanist Sans, Geometric Sans, Neo-Grotesque, Grotesque e Outras), Serif (sub-categorias: Slab Serif, Latin Style, Modern, Transitional e Old Style), Decorative & Display (sub-categorias: Historical Styles, Decorative, Typewriter, Experimental, Techno e Outras), Script (sub-categorias: Formal Pen, Pointed Pen, Brush, Monoline, Hand e Outras), Blackletter (subcategorias: Textura, Rotunda, Schwabacher, Fraktur, Unical e Outras), Old Slavonic (Sub-categorias: Ustav, Half-Ustav, Scoropis', Vyas' e Outras) e Pictures (Sci & Technics, Work & Rest, Keyboard, Ornaments & Borders, Pictures e Outras).
Tratei sobre algumas das classificações (poucas, escolhidas a dedo) resumidamente, caso queiram, basta comentar e farei o possível para pesquisar e escrever sobre os assuntos que vocês sugerirem: sejam relacionados ou não ao tema desse artigo, ok?! Super obrigada pela paciência para ler mais esse artigo gigante e espero que tenham gostado! :)
REFERÊNCIAS:
- PRENSA DE GUTENBERG
- GUTEMBERG NÃO INVENTOU A IMPRESSÃO COMO CONHECEMOS HOJE
- HISTORY OF PRINTING IN EAST ASIA
- WANG ZHEN (OFFICIAL)
- BI SHENG
- WHO INVENTED THE PRINTING PRESS?
- JOHANNES GUTENBERG
- RENASCIMENTO
- REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
- ILUMINISMO
- WOODCUT
- TYPE CLASSIFICATIONS
- TIPOGRAFIA: HUMANISTAS SEM SERIFA
- ATYPI: ASSOCIATION TYPOGRAPHIQUE INTERNATIONALE
- BASIC GLOSSARY OF TYPEFACE ANATOMY
- A PRACTICAL APPROACH TO CLASSIFYING FONTS
- THEODORE LOW DE VINNE
- THEODORE LOW DE VINNE (1828-1914)
- DE VINE, THEODORE LOW
- THE PRACTIVE OF TYPOGRAPHY
- CLASIFICACIÓN DE FRANCIS THIBAUDEAU
- THIBAUDEAU CLASSIFICATION
- UM PANORAMA DAS CLASSIFICAÇÕES TIPOGRÁFICAS
- LA LETTRE D'IMPRIMERIE
- THIBAUDEAU'S CLASSIFICATION [FRANÇOIS THIBAUDEAU]
- FONTFONT: THE WORLD'S LARGEST LIBRARY OF ORIGINAL CONTEMPORARY TYPEFACES
- PARATYPE CLASSIFICATION
- Bringhurst, Robert. The Elements of Typographic Style.
- Cullen, Kristin. Design Elements, Typography Fundamentals: A graphic style manual for undestanding how typography affects design.